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  • Foto do escritorFernando H. G. Nunes

Quase tudo sobre Adeus, Lola!

Atualizado: 17 de mar. de 2022

Enredo construído entorno de carta verídica caminha livre entre o luto e o sexo


Quando digo que a história de Lola é real, não exagero. Numa noite de segunda-feira no início de junho de 2020, chegou até mim a carta de uma amiga que atravessava um dos momentos mais difíceis de sua vida: o luto pela morte do pai. As medidas de isolamento social já haviam se estabelecido e, não só os brasileiros, mas pessoas do mundo inteiro passavam pela experiência de estar mais tempo consigo, com seus pensamentos, seus sentimentos. Mais tempos com seus medos.



A carta, um tanto extensa, escrita com muita franqueza, era dirigida a amigos e colegas que temos em comum. Causou-me um espanto imediato. Nomes e fatos apareciam enfileirados no texto. Talvez os apresentasse como sendo omissos, talvez como negligentes ou apenas como gente comum, que se contradiz. O leitor terá sua visão. Mas para além da mágoa, as palavras traziam auto-estima, respeito e carinho por si e pelos outros. Trazia também indagações vindas, claro, de um tempo de solidão, falta e observação que minha amiga enfrentou com o auxílio de quem estava por perto e presente.

"Eu acredito que o pior da internet é o que ela faz com os encontros. Faz ser tolerável que eles não aconteçam."

Como superar a morte do pai, com quem vivia sozinha desde os 11 anos? Como atravessar o inferno da dor, quando a família e os amigos são substituídos por "Tudo bem?" virtuais? Pode o contato digital verdadeiramente curar a dor? Abalada e sem respostas, Lola se revolta com a ausência dos amigos, chora as memórias do pai ainda tão presente, mesmo nos planos que faz ao ler o horóscopo do dia. No isolamento social imposto pela pandemia, quebram-se todas as suas certezas e o vazio traz, em alguns cliques, novas descobertas sobre si. Suas buscas? São por planilhas, músicas, notas, feeds e pornografia.



Os trechos acima e abaixo, em destaque, fazem parte da carta que minha amiga escreveu aos amigos e Lola faz o mesmo. A carta está no livro quase que ipsis litteris como a recebi, como foi escrita. Mantive todos os parágrafos e quase toda estrutura original, ajustando apenas alguns termos, nomes e palavras para que o enredo a abraçasse. O trecho inicial da carta figura na contracapa do livro. É importante dizer que embora a carta de minha amiga esteja no cerne da narrativa, Lola não é seu retrato. Ela é uma personagem de retalhos, unidos num manto elaborado para descobertas e caminhos para pretensos desejos e secretas liberdades.

Sabemos que 2 corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, então, a gente deixa a internet resolver o nosso problema de falta de tempo, de prioridades, preenchendo em nossas vidas as lacunas que as presenças deveriam ocupar.
A cantora e compositora Dolores Duran | Acervo MIS

O adeus de Lola entre entre links, sexo e luto


Enquanto vive seus dias de isolamento como redatora em home office, a personagem pondera ensinamentos, pesquisa coisas aleatórias, categoriza os amigos em planilhas, ensaia mil desabafos sobre tudo a seu redor, se permitindo brincar com a chama acesa do tesão dentro de si. Aprende a eliminar sentimentos, a riscar seus medos. Aprende que quer e pode falar sobre eles - se expressar de verdade - e fazer isso de uma maneira diferente de como costumava. Antes exibia tudo em seu feed do Instagram. O luto minou esse hábito. Sente-se um tanto invisível por não estar nos feeds.


É este sentimento de invisibilidade que conduz Lola ou Dolores - batizada assim pelo pai em homenagem à Dolores Duran - a um artigo de Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, que é Doutora em História Cultural e pesquisadora colaboradora do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). No artigo de Ana Carolina sobre compositoras brasileiras no século XXI, Lola descobre o fio de meada que a conduzirá à uma outra rede social, onde ensaia o se expressar melhor, do jeito que sente e da maneira que vê que é preciso.


É curioso como a gente se comporta na internet... venho observando isso nos últimos meses... a partir do meu próprio comportamento. Tentando entender o que de fato mexia comigo, o que me deixava bem e o que me deixava mal...

Ao passo em que compila ódios e argumentos contra seus amigos, que culminam na tocante carta de amor, Lola se perde e se acha em abas anônimas de pesquisas no Google que a levam por uma rede de links mais variados: de programas rurais à pérolas do xvideos.com. Uma mergulho quente na pornografia, na masturbação, no Tinder. E o leitor que estiver em sua companhia pode acompanhar tudo, pesquisar tudo junto com ela e ter sua própria percepção do que Lola viu, leu, riu e gozou, porque é tudo real. Tudo é divertido, como a vida. Confesso, gargalhei escrevendo algumas partes.


Quem acompanhar a semana transformadora da redatora, descrita nas 162 páginas desta minha primeira novela impressa, que a partir de 21 de janeiro estará em dois mercados de Lingua Portuguesa - Brasil e Portugal - terá uma grata surpresa ao chegar ao final, aprenderá coisas e, acredito, se fará perguntas, de certo, tão reveladoras como as que a personagem se faz. É uma promessa, leitor.


7 CURIOSIDADES SOBRE ADEUS, LOLA!


  1. Adeus, Lola! é uma novela, um gênero literário que está entre o conto e romance, cujo o enredo se caracteriza por ter um ritmo mais acelerado, com uma narrativa mais extensa que o conto e mais mais curta que o romance. A novela é bem focada nas ações dos personagens, o que garante celeridade no desenrolar do enredo.

  2. A história está dividida em duas partes, cada uma deles recebeu como título um verso do mais conhecido cântico Hermano de Reichenau, monge cego e paralítico, que é o autor da oração mariana mais conhecida da igreja Católica, a "Salve Regina" ou a "Salve Rainha".

  3. Cada um dos 10 capítulos do livro recebe o nome de uma canção escrita por uma compositora brasileira, sozinha ou em parceria, como é caso de "Esquadros" de Adriana Calcanhotto, composta com o irmão, Claudio.

  4. As compositoras cujos os nomes da canções intitulam os capítulos do livro são: Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Maysa, Luhli e Lucinda, Rita Lee, Joyce Moreno, Maria Bathânia, Angela RoRo e Adriana Calcanhotto.

  5. A novela foi escrita em um período de tempo de cerca de 45 dias, onde ouve pequenas pausas de 2 a 3 dias para descanso. Para otimizar o tempo fiz um quadro no Trello onde organizei a estrutura dos livros e as informações de pesquisa e pontos do enredo.


6. Os nomes originais da carta de Lola - que tem o mesmo tanho e teor da minha amiga - ao ser enviada pelo WhatsApp, era tão grande que exibia dois ler mais. Textão de verdade! - foram substituídos por nomes da música "Sandra" de Gilberto Gil. Escolhi o nome Sandra então para a amiga que compartilhou a carta comigo. Obrigado, Sandra! <3

7. A primeira coisa que minha amiga, autora da carta, disse ao ler os originais do livro foi: "Primeiro. Eu sou totalmente contra a zoofilia". Amiga, muito obrigado mesmo por me deixar fazer minhas loucuras com suas palavras. Te amo, Lola Mercedes!



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